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A Multiversidade dos Povos da Terra de Mãe Preta é uma teia intercomunitária de comunidades kilombolas, indígenas, ribeirinhas e de terreiro do Pampa à Amazônia, protagonizada majoritariamente por mulheres. Iniciada em 2017, na Comunidade Kilombola Morada da Paz (Triunfo/RS), pelo chamado de uma preta-velha, Mãe Preta, em contato com uma ancestral indígena, de nome Iapucã, a Multiversidade surge com o intuito de consolidar uma rede de troca de saberes em defesa da vida, dos territórios ancestrais e de outros modos de sentirpensar o mundo.

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DOSSIÊ KILOMBO
Proteger, Defender e Vigiar

O Dossiê Kilombo – Proteger, Defender e Vigiar, publicado em 2022, contém a cartografia comunitária do Território Kilombola Morada da Paz, realizada ao longo do Programa Encruzilhadas da Multiversidade, Protocolo de Consulta e Estatuto Comunitário Igbesi Alaafia.

Sobre nós

“A consciência é o pilar dos tempos” (Mãe Preta)

A Multiversidade dos Povos da Terra de Mãe Preta é assim nomeada pois não existe um saber único sobre o mundo, como os saberes colonialistas gostam de contar as suas histórias. Para as histórias dos povos da terra, os saberes são múltiplos e diferentes, e dizem sobre os diversos modos de ser e de viver. Gostamos da diversidade e do encontro dos saberes, por isso chamamos Multi-versidade, porque acreditamos que as histórias sobre a vida e o mundo podem ser contadas de muitos modos e todas elas carregam belezas, verdades e sabedorias.

Os saberes dos povos da terra estão conectados aos modos de viver, são saberes que brotam da relação que cultivamos com os pássaros, com os rios, com o vento, com a terra úmida, com as plantas, com os deuses, espíritos e com todos os seres viventes. Também são saberes que durante muitos e muitos anos têm resistido e sobrevivido às violências colonialistas da propriedade da terra, da acumulação de recursos, do racismo e sexismo e da retirada da autonomia dos povos. Por isso, queremos conectar os nossos saberes nessa grande teia de Ananse, compartilhados entre nós e para nós, na defesa da nossa dignidade de seres viventes e no cuidado com a Terra.

Quem faz parte da Multiversidade?

"É preciso reunir o povo e sonhar juntos nessa lua. Para que acessem

os campos do sol, da chuva, do vento da Multiversidade." (Iapucã)


Somos originários de comunidades de diferentes estados que se encontraram em rituais-celebrações que acontecem na Comunidade Kilombola Morada da Paz. Somos Comunidade Kilombola Morada da Paz (RS), somos Quilombo do Dandá (BA), somos Quilombo Abacatal (PA), somos quilombo Manzo (MG), somos aldeia indígena Kariri-Xocó e Fulni-ô (AL), somos povo Macuxi (RR), somos comunidade Nova Canaã (PA). Somos uma grande ciranda!

Somos as/os protagonistas das nossas histórias coletivas, desde os nossos corpos e territórios. Somos anciãs e anciãos, adultos, jovens, crianças. Ao nosso lado também caminham alianças e parcerias. Pessoas que compartilham afetos e projetos de transformação do mundo: ativistas da cultura, dos direitos humanos, ambientalistas, membros de organizações sociais e membros de Universidades.

Não somos iguais, somos múltiplos. De idades, territórios, raças, gêneros, sexualidades, povos, religiões. Somos sonhadoras e sonhadores: sonhamos um outro mundo possível. Como dizem as/os irmãs/ãos indígenas zapatistas do México, sonhamos “um mundo onde caibam muitos mundos”. Somos teia: a teia de Ananse, que tece sua teia de prata e traz para seu povo muitas histórias e sabedorias.

Como funciona a Multiversidade?

Nosso pensamento não é linear, é circular. Não formamos, nem distribuímos títulos. Ao contrário, queremos desformar, tirar nosso pensamento das caixinhas e formatações colonialistas, fazemos isso através de ipádès, rodas de conversa, onde a fala, o canto, a dança e a escuta são ancestrais e fundamentais.

Somos sabedoras/es sentipensantes. Aprendemos, com os nossas/os ancestrais, a aprender e a ensinar. Fazemos isso contando histórias e criando vínculos com os seres com quem compartilhamos o mundo. Contamos nossas histórias para continuar vivendo. Sentipensamos com a mente emocionada e com o coração inteligente.

Somos teia de Anansi. Não existe uma sede, um centro, um lugar. A Multiversidade acontece nas comunidades, nas periferias urbanas, nas brechas clandestinas das universidades e organizações, nas ocupações, nas retomadas, nas manifestações de ruas. Nosso papel é possibilitar bons encontros mobilizados pelas lutas em defesa da vida.

Temos um propósito comum. Somos seres integrados. Cultivamos, cada um à sua maneira, o bem viver e sentimos a urgência do chamado da Terra em defesa da vida. Por isso, algumas linhas centrais orientam nossas conversas e ações:

  1. Educação e nossos modos de ensinar e aprender;

  2. Terra e direitos territoriais;

  3. Cura e Ecoespiritualidade;

  4. Agroecologia e Saúde;

  5. Ekogestão e autonomia comunitária;

  6. Identidades de gênero e sexualidades;

  7. Racismos Ambientais, Institucionais, Religiosos e Sistêmicos.

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