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Kilombo Morada da Paz/RS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NOSSO JEITO DE SER E DE VIVER

 

Enquanto jovem, é necessário que sejamos expostos ao mundo como ele é, assim nos disfarçando de estudantes e nos infiltrando dentro das escolas e universidades para que possamos em algum momento utilizar a chave que nos foi dada para abrir as portas para a comunidade, e para preparar o terreno para os debates que precisam ser pautados. Sermos jovens negros kilombolas não nos isenta de sofrer com os desafios do dia a dia, como a brutalidade das abordagens policiais ou a busca por um/a companheira/o de caminhada que entenda e apoie a nossa luta, mas nos deixa ser e nos de que qualquer desafio não será enfrentado e nem superado sozinho.

A educação no Território de Mãe Preta não tem idade para começar e nem idade para terminar, pois é preciso se desformar para poder formar. Tudo o que fazemos no dia a dia serve como ensinamento, pois tudo é uma metáfora, o simples ato de varrer uma casa pode vencer uma guerra. Isso é o que denominamos preces práticas, as tarefas do cotidiano servem como a prática da pedagogia do “enquanto reza vai fazendo”, pois não há realização sem movimento. Esta é uma das metodologias que a Escola Comkola Kilombola Epè Layê utiliza. A partir das vivências da Comunidade, ensina não só o português, a matemática, mas sim como utilizar o português e a matemática para auxiliar o seu Território, estudar e ser dono/a da sua própria história e lutar pelo direito de ser e reexistir do seu povo. 

A Comunidade Kilombola Morada da Paz vem enfrentando grandes desafios para preservar e garantir seus direitos, tendo que lidar, por exemplo, com uma obra de expansão da BR 386 ameaçando a Yanga Yabá, Terra Mãe. Obra esta que foi autorizada sem a consulta da CoMPaz e irá minimamente encurtar a distância entre o Território e a BR386, e podendo levar também à uma invasão territorial ou até mesmo à realocação da Comunidade. Isto vem acarretando em uma série de danos ao Território de Mãe Preta, desde a pressão psicológica nas crianças e adultos que lá habitam, a poluição da fauna e flora, mudanças na qualidade das frutas, legumes e verduras cultivados, e também a migração de animais tanto para dentro do território, já que é o único espaço que preserva a mata nativa, mas também para fora do território, causando assim um desequilíbrio na balança natural. 

Mas o mais “dolorido” de todos é sentir o descaso, o desrespeito e a negligência do poder público e privado em relação ao direito de ser e existir dos povos tradicionais. Em Combate a esse desrespeito, a Comunidade Kilombola Morada da Paz se articulou junto a seus aliados e formou uma rede de apoio regional, nacional e até mesmo internacional, que levou este debate para o Conselho Latino americano de Direitos Humanos e entrou com uma ação civil-pública pedindo a revogação da licença prévia que foi concedida para que a obra fosse levada pra frente nos trechos que atingem o Território. E em adição a isto, desenvolveu diversos documentos como a cartografia humanizada, que aponta os espaços importantes dentro do território não somente na perspectiva geográfica, mas também na perspectiva de entender o que aquele lugar representa e qual o valor afetivo que ele tem para os moradores, assim indo além do físico quando se fala em danos. 

O outro documento, e um dos mais importantes, foi o Dossiê KILOMBO: Proteger. Defender. Vigiar. Este dossiê “tratado jeito como defendemos a mãe natureza e o nosso território.[…] serve como uma ferramenta para defender o nosso modo de ser e existir.[…] objetiva vigiar o nosso adehun para que ele seja respeitado na sua Consulta Prévia Livre Informada e de Boa-fé”(Comunidade Kilombola Morada da Paz, 2022). Desta forma, a Comunidade Morada da Paz, Território de Mãe Preta se mantém viva e salvaguarda a sua história, memória, espiritualidade e a sua cultura. Honrando os ensinamentos das mestras e mestres, orixás e guias espirituais que transmitem conhecimento através não só da fala mas também das ações. Sendo assim, este, o maior dos desafios, manter-nos vivos.

Eu sou Ogan Alabè Ayan, guardião do merecimento, zelador e protetor dos territórios de Mãe Preta e GbaOyaNkan do Coletivo Ajibonã Choupana Odomodê Odjango. Sou um jovem negro da Comunidade Kilombola Morada da Paz - Território de Mãe Preta, e junto das minhas irmãs e irmãos busco agregar aquilo que trago comigo, enquanto aprendizado, vivências e talentos, para dentro do Território. 

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